Em sua última atualização semanal (10), a Datagro projetava 6,67% de alta para o grupo Alimentação e Bebidas e 5,81% de alta para o grupo Combustíveis do IPCA , o índice oficial da inflação brasileira, no acumulado dos 12 meses de 2025. Os primeiros meses do ano já foram marcados por uma volatilidade nos preços de commodities, inclusive levando a leitura do IPCA de fevereiro aos maiores níveis em 22 anos para o mês. 

Os analistas têm sinalizado que a volatilidade e os ajustes recentes das cotações, em especial de produtos de base para as cadeias, ainda podem impactar a inflação produtiva de forma sistêmica ao longo de todo o restante do ano. No caso dos alimentos, um grande ponto de risco é o milho , principal insumo utilizado na nutrição de aves de corte e postura, além de suínos e bovinos tanto nas criações de corte quanto de leite.

Segundo a Datagro Grãos, os preços do cereal em Rondonópolis (MT) no dia 13/03 já operavam na faixa dos R$ 85,00/sc, um valor mais de 40% superior ao observado um ano atrás e o maior desde o início da invasão russa sobre a Ucrânia em mar/22. Utilizando estudos econométricos, a consultoria aferiu que o acompanhamento vigente nas cotações do milho pode impactar a inflação brasileira de alimentos em até 1,07% ao longo dos próximos seis meses, enquanto no índice geral o impacto pode chegar a até 0,47% em igual período, evidenciando a possibilidade de impacto inflacionário sistêmico de médio prazo imprimido pela alta de preços de um dos principais componentes do custo de produção de proteínas animais no Brasil.

Esse quadro também é reforçado pelos ajustes de preços de refinaria e do ICMS dos combustíveis, com destaque para o diesel. Apesar do baixo peso do combustível no IPCA, por questões de dependência elevada de frete e transporte rodoviário, o diesel desempenha papel semelhante ao do dólar (e do milho) na inflação, ao passo em que seus efeitos são sentidos a médio e longo prazo, pois reverberam no custo das demais mercadorias e em seus custos de base e frete, afetando a inflação brasileira de forma ainda mais sistêmica que o milho. 

Considerando o reajuste de 6,29% realizado sobre o preço de refinaria do diesel pela Petrobras, o efeito poderá ser de 29 bps (0,29%) a mais de inflação no acumulado em 12 meses do índice geral, enquanto para o IPCA Alimentação e Bebidas, o impacto deve ser maior, resultando em 77 bps (0,77%) a mais no acumulado em 12 meses para o fechamento de 2025, mesmo sem considerar o aumento já previamente estipulado de ICMS sobre os combustíveis.  

Com isso, a consultoria reforça que apesar das medidas anunciadas pelo governo e do quadro de curto prazo razoavelmente controlado, existem outros fatores que apoiam as expectativas de uma inflação brasileira acima do teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional para o fechamento de 2025.